O CONTO É UMA NARRATIVA QUE NÃO TEM NADA DE SIMPLES. DE ACORDO COM AMIGO MEU, ESCRITOR, SÃO POUCOS OS QUE SABEM ESCREVER CONTO. A MAIORIA, ESCREVE CRÔNICA PENSANDO QUE ESTÁ FAZENDO CONTO. MAS EU PREFIRO CONCORDAR COM MARIO DE ANDRADE QUE DIZIA QUE:"CONTO É AQUILO QUE EU CONTO". PORTANTO, AÍ VAI O "MEU CONTO".

Rita
Subitamente o ronco de um motor se faz ouvir ao longe. Como que impulsionadas por molas, todas as cabeças se voltam em direção ao ruído. O veículo vem na velocidade máxima que a poeirenta estradinha permite. Quando se torna visível, o espanto é geral e o silêncio é quebrado pelo grito de alguém:
             ___ Vão carregar o ouro no carro que leva defunto para despistar! Vamos entrar!
Aqueles, que estavam de guarda, nada puderam fazer diante da turba ensandecida que avançava feito trator, disposto a derrubar tudo o que encontrasse pela frente.
             ___ Não deu pra impedir delegado! – tentava desculpar-se um dos policiais que fora encarregado de conter a multidão, impedindo que entrasse na fazenda. ___ Agora danou-se!  Rapidamente, a multidão chegou ao local onde a polícia estava e o rabecão estacionara.
            A cena que se seguiu era indescritível! A expressão no rosto daquelas pessoas era, no mínimo, bizarra. Ia da mais absoluta decepção a mais completa satisfação. Emudecidos pela surpresa, procuravam entender o que estava acontecendo. O que era aquilo que jazia do lado de fora da cratera que fora aberta?
             Um corpo misturado com a lama!Irreconhecível! Um, não! Dois! Eram dois corpos! Que decepção para àqueles que esperavam ouro. Que satisfação para os que ali estavam para banquetear-se com a desgraça alheia!
             ___ Nunca vi nada igual em toda a minha vida! Quem seria capaz de uma atrocidade dessas? –perguntava-se o delegado. ___ Levem para a necropsia!
A ordem foi cumprida rapidamente diante dos olhares atônitos de todos. A esposa do fazendeiro desmaiou, pois não suportara tão brutal visão. O fazendeiro não conseguia articular uma palavra sequer. Quem plantara aqueles corpos ali, e por quê?
Lentamente a população começou a se dispersar. Excitamento e decepção. Alguns ainda se demoraram por ali. Precisavam ser solidários, oferecendo apoio à família e, quem sabe, obter mais informações.
            O dia seguinte, foi de intensa movimentação na pequena cidade. Em todos os lugares públicos, era possível se encontrar investigadores, tentando resolver o caso de alguma maneira e especulando sobre os abjetos fatos. Nadine não teria como matar e transportar o corpo até a fazenda. Por que faria isso? E a máquina, como ela teria tirado do barracão da fazenda? Impossível!  Nadine era inocente! Até fora solta!
            A autópsia revelara que o primeiro corpo encontrado era de Rita e o segundo, era de um feto no sexto mês de gestação e que fora cruelmente arrancado do ventre materno.
Quinze dias se passaram sem que as investigações avançassem.  A poeira já se assentava e, já havia até, quem achasse que a própria Rita era a culpada pelos crimes. Era natural que acabasse mal, é assim que acabam as mulheres de vida fácil. De acordo com a população, os crimes estavam solucionados e o culpado encontrado: Rita, a própria vítima!
A arma do crime não fora encontrada, o operador da retroescavadeira também não, Salvador – o filho do fazendeiro, principal suspeito e amante de Rita – tinha um álibi mais do que provado e comprovado. Caso encerrado e arquivado como insolúvel!


1 comentários:

MILTON MACIEL escritor disse...

Muito bom. Gostei do conto. Que é mesmo um conto, porque conto é o que você conta para nós.

Postar um comentário