MARINA COLASANTI - BIOGRAFIA / POEMAS


MARINA COLASANTI

     A escritora, jornalista e ilustradora Marina Colasanti nasceu na cidade de Asmara, na Eritreia, então colônia da Itália, no dia 26 de setembro de 1937. Ainda na infância seus familiares retornam ao solo italiano, onde ela morou ao longo de 11 anos. Daí eles partem para o Brasil, depois do início da Segunda Guerra Mundial. Neste local eles desembarcam em 1948, fixando-se no Rio de Janeiro.
     Neste país, ela cursa, em 1952, a Escola Nacional de Belas Artes, estudando pintura também com Catarina Baratelle, deste ano até 1956. Dois anos depois ela já estava integrando os diversos salões de artes plásticas. Nos anos que se seguiram ela trabalhou igualmente com o jornalismo e a literatura. Na esfera da comunicação ela atuou como editora e escritora de crônicas, redatora e ilustradora.
     Ela escreveu para vários veículos, apresentou programas televisivos e criou alguns roteiros. Ao mesmo tempo ela se devotou ao universo literário e lançou sua primeira obra, Eu Sozinha, em 1968. Desde então ela publicou mais de 30 livros, entre histórias voltadas para o público infantil e os enredos direcionados aos adultos.
    Marina escreveu poesias, lançando seu primeiro volume poético, Cada Bicho seu Capricho, em 1992. Dois anos depois ela ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia pelo livro Rota de Colisão, de 1993. Sua obra infantil também foi contemplada por esta premiação, conquistada por Ana Z Aonde Vai Você?, de 1999.
      Ela também visitou constantemente o gênero das crônicas, compiladas em diversas obras, entre as quais Eu Sei, mas não Devia, de 1992. Nestas histórias breves a escritora medita sobre eventos corriqueiros, abordando normalmente questões femininas, o amor, a produção artística, as questões sociais de nosso país, revelando sempre profunda delicadeza.
        Marina apresenta em sua obra a marca da diversidade, entre contos, poesias, produções em prosa, literatura infanto-juvenil. Sua primeira publicação infantil foi o livro de contos Uma Ideia toda Azul, de 1979, que logo conquistou o prêmio O Melhor para o Jovem, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
       A autora está sempre viajando pelo Brasil e por outros países, realizando diversos cursos e conferências. Além dos livros já citados, encontra-se em sua obra sucessos de venda e de público como Nada na manga, A morada do ser, Doze reis e a moça no labirinto do vento, O lobo e o carneiro no sonho da menina, Um amigo para sempre, Intimidade pública, Entre a espada e a rosa,Contos de amor rasgados, direcionados ao público adulto.
      Muitos de seus livros já foram traduzidos para o espanhol. Marina, além de escrever, também ilustrou grande parte de seus livros infanto-juvenis. Outros prêmios conquistados pela autora foram os da Câmara Brasileira do Livro, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, do Concurso Latino-americano de Cuentos para Niños, promovido pela FUNCEC/UNICEF, e o Prêmio Norma-Fundalectura latino-americano.
Fontes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marina_Colasanti
http://www.astormentas.com/biografia.aspx?t=autor&id=Marina+Colasanti
http://www.ftd.com.br/v4/Biografia.cfm?aut_cod=153&tipo=I
http://www.sinpro-rs.org.br/release.asp?cod=613



Porta do Armário Aberta

Abro a porta do armário
como abro um diário,
a minha vida ali
dependurada
meu frusto cotidiano
sem segredos
intimidade exposta
que os botões não defendem
nem se veda nos bolsos,
espelho mais real que todo espelho
entregando à devassa
as medidas do corpo.

Armário
tabernáculo do quarto
que abro de manhã
como à janela
para sagrar o ritual do dia.
Sala de Barba Azul
coalhada de pingentes
longas saias e véus
emaranhados sem que sangue goteje.
Corpos decapitados
ausentes minhas mãos
dos murchos braços.

Do armário minhas roupas
me perseguem
como baú de herança ou
maldição.
Peles minhas pendentes
em repouso
silenciosas guardiãs
dos meus perfumes
tessituras de mim
mais delicadas
que a luz desbota
que o tempo gasta
que a traça rói
ainda assim durarão nos seus cabides
muito mais do que eu sobre meus ossos.

Nenhuma levarei.
Irei despida
deixando atrás de mim
a porta aberta.
In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993



Eu Sou uma Mulher

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.

Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.

Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d'água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.

Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.

O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.

O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.

Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.
In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993




Rota de Colisão


De quem é esta pele
que cobre a minha mão
como uma luva?
Que vento é este
que sopra sem soprar
encrespando a sensível superfície?
Por fora a alheia casca
dentro a polpa
e a distância entre as duas
que me atropela.
Pensei entrar na velhice
por inteiro
como um barco
ou um cavalo.
Mas me surpreendo
jovem velha e madura
ao mesmo tempo.
E ainda aprendo a viver
enquanto avanço
na rota em cujo fim
a vida
colide com a morte.
In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993


Frutos e Flores

Meu amado me diz
que sou como maçã
cortada ao meio.
As sementes eu tenho
é bem verdade.
E a simetria das curvas.
Tive um certo rubor
na pele lisa
que não sei
se ainda tenho.
Mas se em abril floresce
a macieira
eu maçã feita
e pra lá de madura
ainda me desdobro
em brancas flores
cada vez que sua faca
me traspassa.
In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993



Às seis da tarde

Ás seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam
com boa saúde
se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom
e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha
porque uma ânsia
uma dor
uma gastura
era só o que sobrava
dos seus sonhos.
Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução 


Canção para um Homem e um Rio

Porque era um homem sincero
eu o levei ao rio entre junquilhos.
Mas sincero não era
era só homem
e deixei nos junquilhos a esperança
de dar à minha espera serventia.

Porque era um homem forte
eu o levei ao rio entre junquilhos.
Mas forte ele não era
era só homem
e entre pedras deixei o meu desejo
de abandonar o arado, a forja, e a lança.

Porque podia me amar
eu o levei ao rio entre junquilhos.
Mas amante não era
era só homem
e na água afoguei a minha sede
de palavras mais doces que ambrosia.

Porque era um homem
só homem
eu o levei ao rio entre junquilhos.
In: COLASANTI, Marina. Rota de colisão. Rio de Janeiro: Rocco, 1993

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