A QUEDA - ALBERT CAMUS / SUGESTÃO DE LEITURA


A queda – Albert Camus

texto traduz o sentimento de ansiedade, próprio do indivíduo que traz a angustia e a necessidade de ser ouvido, devido à falta de atitude que levou Jean-Baptiste Clamence, protagonista da história, a sentir culpa por não ter dado a atenção a um fato que resultou na morte de uma mulher.
A impossibilidade de retroceder no tempo e transformar a omissão em ação fez do personagem um indivíduo ansioso, a ponto de levar o autor a estruturar o texto em um monólogo, capaz de colocar o leitor na condição do interlocutor desconhecido, inoperante e absorto.

Jean-Baptiste Clamence, advogado parisiense que se denominou “juiz-penitente”, deixou o glamour da cidade após uma vasta experiência hedonista, na qual a busca do prazer e da satisfação pessoal chegou a extrapolar o sentimento egocentrista. Instalou o seu escritório, em um botequim conhecido como México-City, na cidade de Amsterdam e em companhia dos frequentadores identificava clientes potenciais.

Quase sempre, divulgava suas ideias às pessoas que conviviam no local, contudo, certo dia, elegeu um cliente do botequim México-City como ouvinte da maioria das suas angustias e inquietações. 
O monologo é composto de frases provocativas e audaciosas. Coloca o protagonista no cento da história, expondo-o à avaliação de conceitos e atitudes que evidenciam um estilo de personalidade com tendência existencialista.

Diz o protagonista com sentimento egocentrista: “Já reparou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabaram de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam mais, que estão com a boca cheia de terra! A homenagem vem, então, muito naturalmente, essa homenagem que talvez tivesse esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe por que somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há mais obrigações. Deixam-nos livres, podemos dispor do nosso tempo, encaixar a homenagem entre o coquetel e uma doce amante: em resumo, nas horas vagas. Se nos impusessem algo, seria a memória, e nós temos a memória curta. Não é o morto recente que nós amamos nos nossos amigos, o morto doloroso, a nossa emoção, enfim, nós mesmos!”

Cita a respeito da ausência de caráter: “Quanto a mim, moro no bairro judeu, ou no que era assim chamado até o momento em que nossos irmãos hitlerianos abriram espaço. Que limpeza! Setenta e cinco mil judeus deportados ou assassinados – é a limpeza pelo vácuo. Admiro esta aplicação, esta paciência metódica! Quando não se tem caráter, é preciso mesmo valer-se de um método.”

O monólogo traz, também, um desabafo, sofrido, de um homem que não consegue se desvencilhar do sentimento de culpa e o remete a avaliações que o incorpora no contexto de uma sociedade individualista e pouco preocupada com uma conjuntura mais ampla. Vejamos: “Devo reconhecer humildemente, meu caro compatriota, que fui sempre um poço de vaidade. Eu, eu, eu, eis o refrão de minha preciosa vida, e que se ouvia em tudo quanto eu dizia. Só conseguia falar vangloriando-me, sobretudo quando o fazia com esta ruidosa discrição, cujo segredo eu possuía. É bem verdade que eu sempre vivi livre e poderoso. Simplesmente, sentia-me liberado em relação a todos pela excelente razão de que me considerava sem igual. Sempre me achei mais inteligente do que todo mundo, como já lhe disse, mas também mais sensível e mais hábil, atirador de elite, incomparável ao volante e ótimo amante. Mesmo nos setores em que era fácil verificar minha inferioridade, como o tênis, por exemplo, em que eu era apenas um parceiro razoável, era-me difícil não acreditar que, se tivesse tempo para treinar, superaria os melhores. Só reconhecia em mim superioridades, o que explicava minha benevolência e serenidade. Quando me ocupava dos outros, era por pura condescendência, em plena liberdade, e todo o mérito revertia em meu favor: eu subia um degrau no amor que dedicava a mim mesmo.”

O livro é um ensinamento, grandioso, que só autores da grandeza de Albert Camus são capazes de levar o leitor à reflexão do comportamento humano, muitos dos quais, seus reflexos, são irreversível para si próprio e para a humanidade.

Informações sobre o autor - Albert Camus, foi escritor e filósofo, nasceu na Argélia e viveu sob o signo da guerra, da fome e da miséria. Morreu em acidente de carro em 1960. Juntamente com Jean-Paul Sartre foi um dos principais representantes do existencialismo francês. Camus afirma que as pessoas procuram incessantemente o sentido da existência numa vida que carece de sentido e na qual só é possível ganhar a liberdade e a felicidade com a rebelião. Escreveu O Mito de Sísifo (1942), O Estrangeiro (1942), A Peste (1947), O Estado de Sítio (1948), Os Justos (1949). Foi-lhe atribuído o Prêmio Nobel da Literatura em 1957.

Referência bibliográfica
Camus, Albert, 1913-1960
A queda / Albert Camus; tradução de Valerie Rumjanek. - 16ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2009.
VISÃO LITERÁRIA

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