A TECNOLOGIA VAI À GUERRA - 1ª GUERRA MUNDIAL: LEIA AQUI!



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Mais importantes inovações tecnológicas militares aconteceram durante a Primeira Guerra Mundial que em qualquer outra guerra na história. Com a única exceção importante da bomba atômica, todos os meios importantes de guerra da Segunda Guerra Mundial foram meramente melhorias ou modificações das armas em 1918.

As Aeronaves e a Guerra Aérea. Embora os balões tivessem sido usados em guerras mais cedo – como na Guerra Civil Americana e na Guerra Franco-Prussiana – o voo dirigido e controlado sério sobre o chão tinha menos que uma década e meia quando a Primeira Guerra Mundial começou. No princípio duas variedades de aeronave foram usadas: o rígido balão dirigível mais-leve-que-o-ar, ou aeróstato, e o avião mais-pesado-que-o-ar. O tipo melhor-conhecido e mais bem-sucedido de aeróstato dirigível era o zepelim Alemão. Os aviões eram versões grandemente melhoradas do protótipo cru primeiro voado (1903) nos Estados Unidos pelos irmãos Wright e na França pelo Brasileiro Santos Dumont em 1906.

Os Alemães usaram seus zepelins em várias incursões de alta-altitude em Paris e em Londres, mas muito antes do fim da guerra os Alemães abandonaram as incursões em massa dos zepelins porque os rapidamente aperfeiçoados aviões Aliados eram capazes de escalar à mesma altitude e, atirando balas de metralhadoras nas bolsas de gás hidrogênio-cheias dos dirigíveis, os transformavam em holocaustos aéreos. Os zepelins eram usados para o transporte a longa-distancia – um memorável voo ininterrupto da Bulgária levava os suprimentos muito-necessitados ao minúsculo exército isolado Alemão do General von Lettow-Vorbeck na Africa Oriental – mas ao final da guerra o zepelim tinha sido eclipsado pelo avião de combate.

A guerra aérea, por toda sua cor, romance, e glória, teve pouca influência no resultado da Primeira Guerra Mundial. Pela maior parte, a guerra aérea consistiu em vários combates individuais, mantendo pequena relação com o curso das grandes batalhas terrestres. O bombardeamento não danificou seriamente qualquer indústria de guerra, e as comunicações e linhas de suprimento no chão nunca foram rompidas a qualquer extensão importante. Basicamente, a guerra aérea de 1914-18 foi uma precursora das coisas a porvir e um terreno de testes para a teoria tática e técnica.

O Submarino. Os primeiros esforços para a guerra submarina foram abertos pelos Americanos nas guerras Revolucionária e Civil. Porém, os verdadeiramente efetivos submersíveis militares fizeram seu aparecimento na Primeira Guerra Mundial.

Antes de 1914 alguns pensadores navais Alemães tinham visto o potencial do submarino como um meio de compensar o domínio mundial da Inglaterra no mar molestando e tentando bloquear as vulneráveis linhas ultramarinas de comunicações da Grã-Bretanha.

Quase funcionou. A campanha submarina de 1917 quase forçou a Inglaterra para fora da guerra, mas o sistema de escolta salvou a Inglaterra, e no final das contas os submarinos não foram mais uma séria ameaça.

O Tanque. Tão dramático e importante como uma nova arma quanto o avião e o submarino, o tanque também demonstrou um potencial que chegaria a ser percebido completamente só na guerra subseqüente. Ao final da Primeira Guerra Mundial o tanque estava se tornando uma força principal nas batalhas terrestres. Ele era lento, incômodo, e vulnerável à artilharia hostil, mas ele poderia prover mobilidade e potência de fogo ao atacante.

O Gás Tóxico. O gás tóxico foi, em grande parte por causa de sua cautela e seus fumos asfixiantes, o maior terror-inspirador de todas as armas da guerra. Contra medidas logo reduziram o gás tóxico a pouco mais que um meio de molestamento, mas seu potencial mortal levou a um acordo internacional, o Protocolo de Genebra de 1925, proibindo o gás tóxico como um meio de guerra.

A Metralhadora. Como o avião e o submarino, a metralhadora foi uma invenção Americana que foi melhorada na Europa. Cedo na Primeira Guerra Mundial seu valor foi demonstrado como uma arma defensiva. Em combinação com as trincheiras, o arame farpado, e as cápsulas de artilharia alto-explosiva, a metralhadora dominou o longo beco sem saída das trincheiras entre fins de 1914 e o começo de 1918.

Os Alemães finalmente reconheceram o potencial ofensivo da metralhadora e abriram caminho para o desenvolvimento das metralhadoras leves para prover potência de fogo móvel dentro de cada esquadrão.

A Artilharia e Altos Explosivos. O persuasivo canhão tinha dominado os campos de batalha da Europa nos tempos Napoleônicos. Aquele domínio tinha súbita e dramaticamente desaparecido na Guerra Civil Americana, quando o rifle se tornou a arma mais letal no campo de batalha. Porém, três novos desenvolvimentos imediatamente antes da Primeira Guerra Mundial restabeleceram a artilharia ao seu lugar como o árbitro das batalhas. Estes eram a precisa, e rápida arma de campo com sofisticado mecanismo de recuo e trava de fechamento-rápido; as cápsulas alto-explosivas que poderiam varrer grandes áreas com explosões destrutivas e estilhaços com garras de aço; e, talvez mais importantes, os novos meios de comunicação rápida por telefone, que permitiram colocar armas atrás das linhas de cumes e florestas e atirar sobre essas máscaras em alvos que as artilharias não podiam ver, seguindo direções telefonadas de observadores facilmente escondidos nas linhas de frente.

Os projéteis em tubos de artilharia também atingiram seu pleno potencial de letalidade durante a Primeira Guerra Mundial. A arma de campo Francesa de 75 mm, desenvolvida em 1897 – a mais efetiva peça de artilharia da guerra – remanesceu uma arma útil quando a Segunda Guerra Mundial começou em 1939; a arma de longo alcance Alemã que descascou Paris no começo de 1918 tinha um dos alcances de fogo mais longos de qualquer canhão balístico.

As Comunicações Eletrônicas. Os telefones de campo não só revitalizaram a artilharia, mas eles também proveram comunicação instantânea entre os comandantes e as unidades subordinadas. Embora os fios fossem vulneráveis ao fogo da artilharia hostil e pudessem ser cortados por ousadas patrulhas noturnas, eficientes equipes de reparos poderiam manter os telefones operando debaixo de quase qualquer condição.

Um novo meio de comunicação eletrônica também apareceu durante a Primeira Guerra Mundial, apenas 10 anos depois de sua invenção – o rádio. Seus sinais invisíveis não podiam ser cortados pelo fogo da artilharia ou cortadores de arame, embora meios de esmagar a transmissão logo foram descobertos – da mesma maneira que a evasão. O rádio permitiu a instalação muito mais rápida das comunicações, à alcances mais longos distantes, do que era possível com telefones de campo. Poucas melhorias foram feitas nos telefones de campo desde a Primeira Guerra Mundial; melhorias na transmissão de rádio, porém, têm sido contínuas, com o potencial futuro da eletrônica na guerra ainda ilimitado.

As Consequencias. A tecnologia aumentada da Primeira Guerra Mundial tinha grandemente ampliado o potencial da humanidade para matar, mas também se esperava que esta “guerra para terminar todas as guerras” tinha servido como uma lição para as nações e que a matança futura poderia ser evitada. A Liga das Nações foi estabelecida para resolver as disputas internacionais pacificamente, e o Pacto Kellogg-Briand (1928) buscou proscrever a guerra completamente. Muitos aspectos da determinação de paz de Versalhes, porém, semearam as sementes do conflito futuro. As severas penalidades arrecadadas contra a Alemanha criaram a instabilidade econômica e política e assim ajudaram a ascensão de Adolf Hitler. Como a erupção da Segunda Guerra Mundial provaria 20 anos depois, a humanidade ainda não tinha encontrado o caminho da paz.

Fonte: http://br.geocities.com/inations/wwar1.htm

http://coltecnagrandeguerra.wordpress.com/category/a-guerra%C2%B3/as-armas/


Ciência e tecnologia – novas técnicas militares

A Primeira Guerra Mundial foi um acontecimento em que, pela primeira vez houve uma mobilização total, ou seja, toda a sociedade das nações participantes se envolveu profundamente.

Além disso, o fato marcou o fim da visão de guerra como uma ocupação glamourosa e mostrou que coisa terrível e brutal a guerra pode ser quando disputada por nações que produzem armas em quantidade e enormes exércitos retirados do seio das populações.

A Primeira Guerra Mundial também introduziu um grande número de novas tecnologias e técnicas. A explosão da guerra tirou o mundo da era do carvão para um novo tempo em que a energia passou a ser derivada do petróleo, um combustível muito superior usado em muitas máquinas de guerra e sistemas de transporte por terra e por mar.

O produto mais letal da nova indústria foi a guerra química, com inúmeros soldados sofrendo e morrendo nos ataques com gás. Também os submarinos foram usados efetivamente, levando ao advento de meios de escanear o fundo do mar e os sonares. Tanques rudimentares e apetrechos destinados aos militares também chegaram ao campo de batalha perto do fim da guerra. Finalmente, a metralhadora fez sua estreia na Primeira Guerra Mundial. Tudo isso visava ao avanço na guerra de trincheiras, na qual, ambos os lados cavavam trincheiras fundas, e tentavam atacar o outro lado em geral com pouco ou nenhum sucesso.

http://pt.wikibooks.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Europa/Primeira_Guerra_Mundial


*Para Shozo Motoyama, sociedade deve discutir o desenvolvimento de armas

A relação entre guerra e ciência não é algo recente, nem isolado entre os homens. Mais do que isso a ciência, em muitos momentos da história, elaborou uma tecnologia eficaz para a guerra. Paralelamente, a guerra testa e aplica essa tecnologia demonstrando ao mundo suas possibilidades e seu alcance. Os fartos financiamentos para a ciência no período das Grandes Guerras e no pós-Guerra, facilitaram o desenvolvimento tecnológico. O professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e diretor do Centro de História da Ciência, Shozo Motoyama, abordou essa questão que ele caracteriza como algo contraditório e dialético em entrevista à Com Ciência.

Motoyama demonstrou sua preocupação em relação ao atual desenvolvimento das armas e alertou para a necessidade de um diálogo real entre a sociedade e a comunidade científica. Nesse aspecto, o historiador destacou, de um lado, a importância da divulgação científica para que a população tenha conhecimento das discussões que a ciência suscita e, de outro, a conscientização dos produtores da ciência sobre a sociedade em que estão inseridos. "Os cientistas devem ter em mente que a grande coisa não é publicar 100 ou 200 artigos em revistas especializadas que só eles entendem, mas fazer pesquisas que realmente sejam socialmente e culturalmente relevantes. É claro que a própria comunidade científica e universitária é responsável por privilegiar a questão quantitativa. É necessário levantar a questão de que há uma outra demanda de toda a sociedade, pensando assim o diálogo pode existir. É preciso que os cientistas entendam e estudem mais como é a sociedade que eles mesmos estão inseridos. E eu não acredito que isto esteja ocorrendo", declarou.

Com Ciência - Na introdução do livro Fapesp, uma História de Política Científica e Tecnológica, o senhor afirma, após análise de argumentos de Hobsbawn, Chesnaux e Milton Santos, que "a utilização em grande escala da ciência e da tecnologia, em certas conjunturas sócio econômicas resultou na era das catástrofes (1914-1945) ou nas décadas da crise (1970-1991). Seu uso em contexto melhores levou a era de ouro (1945-1970)". Como a ciência e a tecnologia associam-se à era das catástrofes?
Shozo Motoyama - A guerra é algo bastante contraditório e dialético uma vez que, desde a antiguidade até os nossos dias, a grande arma do homem foi utilizar o conhecimento para conseguir acabar com os seus inimigos. Isso vem ocorrendo já há milhões de anos, ou mais especificamente, nos últimos 10 a 20 mil anos. O grau desse conhecimento, que eu chamaria de um conhecimento objetivo, não tinha ainda alcançado um estado muito avançado, de forma que os seus efeitos, embora grandes, não afetavam globalmente a terra e as sociedades humanas.

A partir do século XX - estou pensando na Primeira Guerra Mundial - começa a haver uma aplicação muito grande da ciência para a questão da guerra em função do seguinte fato: o potencial científico e tecnológico do mundo aumentou exponencialmente devido às características sócio econômicas do planeta. é um período que nós chamamos de revolução tecno-científica na qual a aplicação da ciência, pela primeira vez na história, começou a ser muito eficaz para resolver os problemas tecnológicos e isso formou um complexo industrial muito grande, tecnologicamente muito avançado e eficaz. E em função da existência de um substrato tecno industrial, também se tornou possível pensar em aplicações da ciência na própria guerra.

Embora isso tenha acontecido várias vezes antes, as catástrofes aparecem apenas no início do século XX, em função da ascensão das grandes indústrias, monopólios e multinacionais oligopolistas. Por exemplo, a ascensão da indústria química no final do século XIX e início do XX vai possibilitar a utilização de armas químicas, e uma das características da Primeira Guerra Mundial foi justamente a utilização dessas armas, seja do lado dos alemães ou aliados. Nessa utilização massiva das armas químicas, como gases venenosos, verificou-se rapidamente que as conseqüências eram muito maiores do que aquelas apenas militares, ou seja, até aquela época havia uma certa ética militar, embora nem sempre obedecida, de que os alvos deveriam ser militares. A partir da utilização maciça das armas químicas, não havia mais possibilidade de controle dos alvos e os próprios civis começaram a ser vítimas desse processo. Isso se reforça cada vez mais e, a partir da Segunda Guerra Mundial, ocorre uma degradação da ética militar e começa-se a falar na guerra de extermínio total, ou seja, o alvo passa a ser também civil.

A era das catástrofes não fica circunscrita à questão da guerra, mas extrapola para questões ambientais e também para a aplicação do conhecimento das ciências humanas, pois também há danos sociais muito grandes que caracterizam esse período. O que leva a essa era associa-se à descoberta de que a eficácia da ciência aplicada (a tecnologia) é muito grande e através, por exemplo, da bomba de hidrogênio, temos a possibilidade de destruir o mundo em pouco tempo. Com a disseminação de guerras locais e a utilização impensada da ciência e da tecnologia, inclusive da produção industrial, nós temos a longo prazo um mundo cheio de catástrofes.

São duas variáveis muito complexas que entram nesse processo: a eficácia da ciência para produzir armas cada vez mais potentes de um lado e, do outro, o fato de que, apesar dessa eficácia, a ciência ainda não é capaz de controlar seus efeitos na sua totalidade. Então, os efeitos dessas armas fogem do controle humano e, por isso, o problema é tão sério.

Com Ciência - O senhor acha que é possível afirmar que existe um impulsionamento cíclico entre guerra e ciência?

Motoyama - Não há dúvida de que, se observarmos a história, existe uma inter fecundação entre a ciência e a guerra. Podemos observar, por exemplo, que o desenvolvimento da química fez com que houvesse um desenvolvimento muito grande das armas químicas, em parte na Primeira Guerra Mundial. Mas a utilização desses conhecimentos tecnológicos nessa ocasião também trouxe uma série de aplicações posteriores muito importantes. Em termos de química podemos pensar numa série de produtos e melhoramentos, mas algo muito mais visível foi o desenvolvimento dos aviões que se observou após a Primeira Guerra. é um produto típico, em termos de desenvolvimento, da Primeira Guerra. Ninguém imaginaria que os aviões poderiam ter essa utilidade se eles não tivessem sido testados durante essa guerra. A mesma coisa pode ser dita com relação à Segunda Guerra Mundial, do projeto Manhattan e, principalmente, do desenvolvimento das comunicações - com o radar e os computadores.

As guerras testam e aplicam, de uma maneira muito urgente e emocional, necessidades que são atendidas pela aplicação da ciência e, com isso, é possível haver um aperfeiçoamento posterior que permita que a ciência e a tecnologia se desenvolvam ainda mais. A guerra demonstrou que o computador era possível e fez com que se pensasse em seu aperfeiçoamento com a utilização de transistores e até o melhoramento nos softwares.

O mesmo pode-se dizer com relação a bomba atômica. Em 1920, mesmo os grandes cientistas não acreditavam na possibilidade da aplicação da energia nuclear para objetivos práticos. A resposta dada por Rutherford (um dos pais da física nuclear) era de que quem estivesse pensando na utilização da energia nuclear seria um idiota ou um louco. Vinte anos depois já existia uma aplicação para algo lamentável, a bomba atômica. Isso fez com que houvesse uma corrida para a utilização da energia nuclear para fins pacíficos e, embora seja uma energia muito perigosa, nós sabemos que muita energia elétrica já é gerada pela energia nuclear, usando ainda a fissão.

Todo esse desenvolvimento na parte tecnológica e na aplicação da ciência poderia ser obtido sem essa mediação da guerra. O que acontece na guerra é que o financiamento se torna farto, não existe essa limitação e as pessoas estão realmente engajadas em transformar aquele conhecimento científico em algo prático. Por outro lado, na primeira metade do século XX, as duas grandes revoluções científicas aconteceram no campo da física - a teoria da relatividade e a mecânica quântica. A teoria da relatividade foi desenvolvida por uma série de cientistas, culminando com o trabalho de Einstein, que faz seu trabalho completamente alheio à guerra. A mecânica quântica foi também desenvolvida por um grupo de cientistas da Europa que, embora estivessem num clima de guerra, desenvolveram sua teoria sem qualquer interferência direta de questões militares. Portanto, acho que no seu fundamento e no seu aspecto revolucionário, a ciência não foi ajudada pela guerra. Mas, ao contrário, a guerra foi ajudada pela ciência, uma vez que a bomba atômica é a concretização da aplicação da teoria da relatividade e da mecânica quantidade na questão da energia nuclear.

Se olharmos um pouco a questão da segunda metade do século XX, a grande revolução computacional e a da biologia molecular ou da engenharia genética são desenvolvimentos alheios à guerra. A mesma coisa pode ser falada com relação à revolução informática que vai se observar, porque é claro que houve um financiamento dos militares mas, do ponto de vista do desenvolvimento propriamente dito, não houve um envolvimento direto com a guerra. Nesse sentido, acho que o desenvolvimento da ciência propriamente dita prescinde da guerra para se desenvolver.

Com Ciência - Mas ainda assim é possível observar um forte investimento em C&T a partir das duas grandes guerras?
Motoyama - Isso é algo que está muito mais relacionado com a natureza humana. As aplicações práticas, demonstraram que realmente a ciência tinha uma eficácia muito grande para a guerra. Principalmente na Segunda Guerra Mundial, em que por exemplo o laboratório de radiação do MIT (Massachusetts Institute of Technology) desempenhou um papel muito importante no desenvolvimento do radar e no projeto Manhattam. Depois desse período houve uma época de ouro para a ciência nos EUA, que era o único país próspero na época. Realmente houve um investimento maciço, principalmente por parte da marinha norte americana, para a ciência.

É muito curioso por que a marinha não dava muita importância para a ciência antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, depois dela, se deram conta dessa importância e passaram a investir muito na pesquisa científica. Isso aconteceu em todas as partes do mundo, porque dentro das questões geopolíticas e militares, principalmente na fase da Guerra Fria, os militares tinham uma voz de comando muito forte dentro da sociedade e, portanto, tiveram um papel importante no financiamento da ciência e no crescimento da comunidade científica e tecnológica.

Com Ciência - Qual o reflexo dessa lógica de investimento maciço em C&T, a partir das duas grandes guerras, no Brasil?
Motoyama - Há uma diferença entre os chamados países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, a ciência sempre teve uma dificuldade muito grande de se desenvolver nestes últimos em função da nossa cultura comum, que transparece em quase todos os momentos da nossa história, e só pode ser mudada através da educação. No caso brasileiro, em função também de seu passado colonial, o importante sempre foi investir em coisas que dessem resultados imediatos e, sendo assim, a ciência nunca mereceu muita importância. A Segunda Guerra Mundial alterou a visão tradicional existente na sociedade brasileira, principalmente com o impacto da bomba atômica. A mudança foi gradual mas a sociedade passou a olhar a ciência com outros olhos. Assim, os militares viram na bomba algo que os fascinou e durante muito tempo passaram a ser os defensores de investimentos em ciência.

Isso pode se verificar na fundação do CNPq. O grande artífice do processo foi o almirante Alvaro Alberto. O Instituto de Física Teórica, que teve um papel importante no desenvolvimento da física no Brasil, foi fundado com a ajuda e apoio de generais do exército como o Marechal Lott. Assim, no período do regime militar no Brasil, negro para nós do ponto de vista político e democrático, foi quando ocorreu um maior investimento em C&T. O governo que mais investiu em Ciência e Tecnologia foi o de Geisel. Os militares ficaram realmente muito interessados em ciência e perceberam também a relação existente entre desenvolvimento e ciência. Eles ainda encaravam a segurança nacional e militar como estando muito relacionada com a questão do desenvolvimento. Ou seja, um país desenvolvido economicamente também teria uma segurança nacional maior do que um país subdesenvolvido. Também com essa lógica eles investiram bastante em C&T pensando em desenvolver a própria economia do país e não no desenvolvimento militar propriamente dito.

Centrado na Universidade de São Paulo, surgiram os Fundos Universitários que tinham como objetivo fazer "pesquisa e desenvolvimento", ou seja, utilizar o conhecimento científico para resolver uma série de problemas, principalmente militares. E foram muito bem sucedidos desenvolvendo o sonar e outros artefatos. é verdade que era uma espécie de engenharia reversa mas, de qualquer forma, foram relativamente reconhecidos pela sociedade. Os tecnólogos e cientistas passaram a ficar muito confiantes do seu papel e da sua função. E aproveitaram o clima que da Segunda Guerra e reivindicaram um investimento para a C&T.

A história do CNPq, que foi criado em 1951, mostra muito bem como foi difícil a pesquisa se firmar aqui no Brasil.Se verificarmos que o financiamento ou investimento em ciência está em torno de 1% do PIB, e já falam há muito tempo que temos que chegar a 2%, podemos ver que, ao contrário da retórica, a prática não corresponde à importância e às necessidades da ciência. O fato da Fapesp estar agora forte e com um financiamento estável se deve sem dúvida nenhuma ao artigo que vincula hoje quase 1% da arrecadação para a C&T. 

Com Ciência - Durante o período da corrida armamentista houve um grande investimento do Estado para o desenvolvimento de C&T na indústria, o que começou a declinar na década de 80. Na década de 90, o mercado passou a ser o grande investidor em comunicação, Internet e biotecnologia. O ataque ao World Trade Center, ocorrido em 11 de setembro, pode levar o Estado a voltar a ser um grande investidor em C&T? Pode esse investimento reaparecer, privilegiando a questão da segurança?

Motoyama - Realmente houve um decréscimo, principalmente nos países líderes, em relação a questão do investimento militar, de um lado devido as políticas adotadas nos EUA e, de outro, a decadência da própria URSS

Mas o 11 de setembro nos leva a uma questão muito complicada porque estamos entrando em um processo que, a médio e longo prazo, é suicida. A forma como os palestinos estão se conduzindo e o próprio acontecimento do World Trade Center, são atitudes que eu chamaria de suicida. E falo não só a do terrorista, mas uma atitude suicida em relação a própria civilização e me preocupa muito a política adotada pelo governo Bush.

Os benefícios que os investimentos em tecnologia militar podem trazer são muito pequenos em relação aos danos que se pode causar. Temos militares com uma capacidade de destruição terrível, muito maior do que um planeta poderia suportar. Pense na proliferação das armas nucleares, lembre que na década de 40 havia apenas dois países que tinham armas nucleares, isso aumentou na década de 50 para 4 ou 5 e hoje nós temos quase uma dúzia de países com armas nucleares. Tendo armas nucleares e com essa filosofia da competitividade, qualquer tipo de coisa pode levar a destruição do inimigo. Exatamente da década de 50 em diante, durante a Guerra Fria, as potências imaginavam a sua segurança pensando primeiro em atacar o inimigo. Por exemplo, a primeira ideia com relação a criação da bomba atômica era de que, graças ao seu desenvolvimento e também dos mísseis teleguiados, poderia ser feito um ataque surpresa e terminar a guerra em muito pouco tempo.

Essa guerra não ocorreu em função de um empate técnico entre os dois lados e o medo de que, após um ataque rápido e fulminante, poderia haver um revide também rápido e fulminante. A ideia de segurança é essa, como o próprio Bush vem fazendo, ou seja, ele está pensando em atacar o Afeganistão antes de qualquer tipo de retaliação por parte dos aliados de Bin Laden. Eu acho esse conceito de segurança é muito complicado. O ideal, em função do atual desenvolvimento das armas, é a declaração de uma moratória durante um bom tempo e a busca de outros meios para se conseguir segurança.

O desenvolvimento tecnológico que temos hoje é capaz de suprir materialmente toda a população mundial, mesmo que ela tenha crescido para 6 bilhões de pessoas. Nós temos condições tecnológicas para resolver os problemas de pobreza e, na verdade, o custo desse aparato militar é muito maior do que o custo que teríamos para erradicar a pobreza, que seria o meio mais eficaz e seguro de obter a segurança e não com o investimento maciço em indústrias militares e nas questões militares.

http://www.comciencia.br/entrevistas/guerra/motoyama.htm

*Guerras sempre causam sofrimento. Além das mortes em campos de batalha, esses eventos costumam causar misérias e fazer muitas vítimas indiretas. Mas, apesar disso, as guerras também fomentam a indústria tecnológica, criando máquinas e serviços que acabam sendo incorporados pela população civil, anos ou décadas mais tarde.

Confira, a seguir, algumas invenções desenvolvidas durante esses períodos tensos e repletos de explosões.
1. Forno de micro-ondas

Quem costuma esquentar achocolatado ou pão com queijo no micro-ondas pode não imaginar, mas está usando um legítimo produto que surgiu graças à engenharia militar. Durante o início da Guerra Fria, em 1945, o engenheiro americano Percy Spencer trabalhava com a tecnologia de radares, mais precisamente na construção de peças capazes de gerar ondas eletromagnéticas (magnetrons). Durante as muitas horas dedicadas ao serviço, Spencer percebeu que uma barra de chocolates em seu bolso havia derretido.
(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Não demorou muito para que engenheiro chegasse à conclusão de que o doce havia sido aquecido pelas micro-ondas. Depois disso, as pesquisas prosseguiram e a pipoca foi o primeiro alimento a ser preparado no mundo com a nova técnica. Saiba mais sobre o funcionamento desse equipamento no infográfico animado que o Tecmundo publicou anteriormente.

2. GPS

Quem já acionou o GPS de um smartphone ou do próprio carro na hora de encontrar um endereço também contou com uma tecnologia que deriva de projetos criados com fins militares e para o uso em guerras. A implementação do GPS é baseada, parcialmente, em sistemas de navegação via rádio, como o LORAN ou o Decca Navigator, que foi usado na Segunda Guerra Mundial.
(Fonte da imagem: Divulgação/Submarino)

Antes restrito aos militares, o GPS está agora disponível no bolso de muitos civis. Porém, como o sistema é de criação do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e atende tanto a militares quanto a civis, a prioridade no uso do GPS é sempre das forças armadas daquele país. Por isso, outras nações têm trabalhado no desenvolvimento de um projeto equivalente ao do GPS, com mais precisão e, é claro, transparência de uso. Um desses projetos, por exemplo, é o Galileu, sobre o qual já falamos no Tecmundo.

3. Câmeras digitais

Desde o fim da década de 50 que governos do mundo todo têm enviado satélites espiões para a órbita terrestre. Sempre equipados com câmeras potentes e capazes de capturar imagens de territórios inimigos, esses equipamentos observam não apenas a posição de suas tropas, mas também o desenvolvimento industrial de determinada região.

(Fonte da imagem: Divulgação/GE)

O problema é que, décadas atrás, a única forma de ter acesso a essas imagens era por meio do filme fotográfico liberado pelo satélite periodicamente na atmosfera terrestre. O processo de recuperação do filme era bastante trabalhoso e, muitas vezes, resultava na perda das imagens.


Em 1976, a NASA colocou um fim nesse transtorno e lançou o satélite KH-1 “Kennan”, equipado com uma câmera óptico-elétrica capaz de transmitir as imagens em formatos digitais. Os fundamentos dessa tecnologia estão presentes até hoje nas câmeras digitais usadas por civis do mundo todo.

4. Controle de tráfego aéreo

Durantes os primeiros dias de voo, os pilotos ficavam completamente isolados do ambiente terrestre assim que decolavam. A única forma de comunicação com pessoas no solo era por meio de gestos com bandeiras ou luzes. Porém, isso mudou com a ajuda do Exército Americano, que instalou o primeiro rádio de comunicação em duas vias em um avião durante a Primeira Guerra Mundial.




O desenvolvimento da nova solução começou em 1915, em San Diego, e por volta de 1916 os técnicos conseguiram enviar uma mensagem via telégrafo sem fio para alguém que estivesse a 225 quilômetros de distância. Em 1917, outro marco: pela primeira vez a voz humana foi transmitida por um rádio instalado em um avião para um operador no solo. Hoje, é impossível imaginar o mundo sem esse tipo de tecnologia.

5. Produção em massa de antibiótico

Apesar de não ter sido inventada durante a Segunda Guerra Mundial, foi durante esse trágico evento histórico que a penicilina passou a ser produzida em massa pela primeira vez, com o objetivo de tratar milhões de pessoas de doenças como a sífilis e a gonorreia, que faziam vítimas em batalhões do mundo todo durante milhares de anos.
Além de usarmos a penicilina até hoje para o tratamento de diversos males, ela também abriu as portas para outros medicamentos que se tornaram essenciais para os soldados. Remédios para malária, por exemplo, foram indispensáveis para a presença de combatentes norte-americanos no Pacífico Sul.
(Fonte da imagem: Reprodução/Science Museum London)

Outros avanços médicos que ganharam mais força durante a Segunda Guerra incluem a transfusão de sangue e a medicina aeroespacial, que possibilitou aos pilotos voarem seguramente a altitudes elevadas e por um longo período de tempo.


6. Serviço de ambulâncias
Durante o fim do século 15, o exército espanhol contava com um serviço que demonstrava preocupação com a integridade física de seus soldados e que, hoje, se tornou indispensável para nós: a ambulância. Apesar disso, o primeiro registro de uso desse tipo de veículo se deu em 1487, pela rainha espanhola Isabella I.


Graças a esse “diferencial”, o Exército Espanhol recebia a fama de tratar bem seus soldados e atraía voluntários do continente todo. Mesmo assim, as ambulâncias espanholas não buscavam seus soldados antes de as batalhas cessarem, o que acabava causando muitas mortes.

(Fonte da imagem: Reprodução/Wikipedia)
Uma grande mudança no serviço de socorro médico se deu com as batalhas lutadas pela França em 1793. Na ocasião, os veículos de duas ou quatro rodas puxados por cavalos entravam no campo de batalha para atender os feridos e fornecer os primeiros socorros.

7. Computadores

É claro que não poderíamos deixar de fora a máquina que possibilita a existência de sites como o Tecmundo e o Baixaki. O primeiro computador eletrônico do mundo, conhecido como ENIAC, começou a ser desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, mas só ficou pronto em 1946, durante a Guerra Fria. Utilizado basicamente para cálculos balísticos, esse “cérebro gigante” — como a imprensa da época se referia a ele — foi peça fundamental no desenvolvimento da bomba de hidrogênio, testada pelo país em 1952.

(Fonte da imagem:ENIAC, o primeiro computador eletrônico do mundo

E se você está irritado com a lentidão ou tamanho exagerado do seu PC, saiba que o ENIAC pesava 30 toneladas, ocupava um espaço de 167 metros quadrados e realizava cerca de 5 mil operações por segundo. Para ter uma ideia, um processador bastante antigo, como o Pentium de 150 MHz, era capaz de realizar 150 milhões de somas por segundo.
8. InternetAinda durante a Guerra Fria, os Estados Unidos buscavam um meio de comunicação e de armazenamento de dados que fosse descentralizado, isto é, que continuasse funcionando mesmo que parte dele tivesse sido bombardeada. Assim, a ARPA, agência militar especialmente desenvolvida para a criação desse projeto, financiou estudos e pesquisas acadêmicas que pudesse levar à criação da ARPANET, como era chamada a nossa querida internet naquela época.
(Fonte da imagem: ThinkStock)

No início, o acesso a essa rede estava restrito para usos militares, sendo, mais tarde, liberado também para o uso acadêmico. No Brasil, a internet já possui mais de 20 anos de existência, sendo que a comercialização do serviço para o público em geral só aconteceu em 1994. Desde então, temos trabalhado e nos divertido diariamente com essa genuína invenção militar.

FONTE(S)
MentalFloss
Mandatory
Learn NC
Cracked

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