Internetês – Ameaça à Língua Portuguesa - Por Karla Hansen

Quem tem acesso à rede mundial de computadores‭, ‬não dispensa o‭ ‬“internetês”‭ ‬para escrever suas mensagens ou se comunicar nas salas de bate-papos virtuais‭. ‬No entanto‭, ‬o que parecia uma brincadeira de adolescente está abalando o coração‭, ‬já tão cansado‭, ‬dos professores da língua portuguesa‭. ‬O assunto também já ganhou as páginas dos jornais e tem alimentado calorosos debates entre acadêmicos‭, ‬escritores e jornalistas‭. ‬Basicamente‭, ‬o debate tem dividido os interessados entre os que são contra e os que são a favor‭. ‬De um lado e do outro existem os exagerados e alarmistas de plantão‭. ‬Entre os que são contra‭, ‬por exemplo‭, ‬um argumento bem forte é o de que o‭ ‬“internetês”‭ ‬é mais que uma degradação da língua‭, ‬um verdadeiro atentado infame a ela‭.

‬O escritor Deonísio da Silva chamou de‭ ‬“besteirol”‭ ‬o novo‭ ‬“idioma”‭ ‬e classificou o fenômeno como‭ ‬“assassinato a tecladas”‭ ‬da língua portuguesa‭. ‬Segundo o escritor‭, ‬nunca se escreveu tanto como nesses tempos de correspondências eletrônicas‭, ‬mas para‭ ‬ele estão‭ ‬“botando os carros na frente dos bois”‭. ‬Ou seja‭, ‬esses adolescentes têm acesso à internet e ao celular‭, ‬mas não à norma culta da língua escrita‭.

‬Nas palavras de Deonísio‭: ‬Os pequenos burgueses tinham internet e celular‭, ‬mas não dominavam a língua escrita‭. ‬E por isso criaram a deles‭. ‬Nada espantoso‭. ‬Também os habitantes das periferias não dominam a norma culta da língua e criam suas gírias‭, ‬devidamente circunscritas a cada grupo de usuários. Para resumir‭, ‬o escritor defende que o‭ ‬“internetês”‭ ‬é um sintoma da grave falência educacional‭, ‬que por sua vez‭, ‬gera a exclusão dos jovens ao mundo letrado ao qual só poucos têm‭ ‬acesso.

Combatendo serenamente essa tese‭, ‬Marisa Lajolo é uma das que não veem nada de grave na invenção dos adolescentes‭. ‬Ao contrário‭, ‬ela acredita que a nova escrita na Internet está promovendo um‭ ‬“surto de poliglotas”‭. ‬Na sua opinião‭, ‬o‭ ‬“internetês”‭ ‬é apenas mais uma linguagem usada pelos jovens para se comunicarem entre si‭, ‬considerados‭, ‬por ela‭, ‬poliglotas pela capacidade‭ ‬de se expressar de maneira diferente com seus pais‭, ‬professores e com os demais interlocutores da comunidade‭. ‬Dessa forma‭, ‬para‭ ‬a escritora‭, ‬isso demonstra criatividade dos adolescentes em criar um código próprio‭, ‬que reforça a identidade dos mesmos‭.‬

Sérgio Nogueira aconselhou os professores a não se assustarem‭, ‬mas procurarem conhecer a linguagem‭. ‬Ele admite que esse é um‭ ‬“fenômeno natural”‭. ‬Para ele‭, ‬o problema maior a ser atacado pelos professores é mesmo o domínio da linguagem padrão‭.‬

Há‭, ‬do outro lado‭, ‬entusiastas febris‭. ‬Pessoas afirmam que o‭ ‬“internetês”‭ ‬veio revolucionar a língua portuguesa e chegam a oferecer um‭ ‬“curso de língua de internetês”‭, ‬no qual estão traduzidas as principais expressões da‭ ‬“língua”‭ ‬num‭ ‬“dicionário”‭.‬

Seguindo o bom senso do professor Sérgio Nogueira‭, ‬alguns professores de língua portuguesa já tiveram a iniciativa de promover‭, ‬em sala de aula‭, ‬atividades com o dialeto‭. ‬Não se trata de rejeitar‭, ‬diminuindo-lhe a importância‭, ‬ou de elevar aos céus‭, ‬atribuindo-lhe poderes para‭ ‬“revolucionar”‭ ‬ou mesmo ameaçar a língua portuguesa‭. ‬Essas experiências em sala de aula têm a qualidade de reconhecer o fenômeno e explorá-lo‭,‬‭ ‬mostrando sua dimensão real‭.‬

Dessa forma‭, ‬é possível que o‭ ‬“internetês”‭ ‬ainda dê o que falar‭. ‬Mas‭, ‬com o vocabulário reduzido de que ele dispõe‭, ‬é provável que o debate‭, ‬assim como a própria vida do‭ ‬novo dialeto‭, ‬não sejam capazes de ir muito longe‭.‬

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