Exercícios sobre gênero textual Biografia - http://www.analisedetextos.com.br

Leia os textos transcritos a seguir para responder às questões de 1 a 8.

Texto 1

Tiros no Dakota

Um, dois, três... cinco tiros na noite de 8 de dezembro de 1980, em Nova York. Estilhaços de vidro.
Um homem — casaco de couro, óculos e um punhado de fitas cassete debaixo do braço — esboça, cambaleante, seus últimos passos em direção ao Edifício Dakota. Por fim, cai, não longe da arcada externa do edifício, diante do porteiro do prédio, Jay Hastings.
— Fui baleado! — consegue balbuciar. Contorce-se, tosse, vomita sangue, pedaços de tecido.
Interrompendo a leitura de um livro, no elegante pequeno hall de mogno do Dakota, Jay Hastings, estarrecido, aciona o alarme para chamar a polícia e corre para junto do corpo agonizante.
Tira-lhe os óculos, que parecem fazer pressão sobre seu rosto, despe-se de seu paletó azul e o cobre. O sangue jorra em abundancia do peito — por isso, tira a gravata para fazer um torniquete, mas não há como fazer torniquete algum.
Retorna ao seu posto, apanha o telefone, disca 911 para pedir uma ambulância, um médico, ajuda.
De volta, ajoelha-se: olha com ternura para aquele homem cujas canções embalaram sua juventude, negando-se mentalmente a inserir aquela cena na sua extensa coleção de lembranças:
— Tudo bem; você vai ficar bom — implora.
23 de outubro de 1980, Havaí: um jovem alto e de compleição forte, 25 anos, pede afastamento do condomínio de alto luxo em Honolulu, onde trabalha como segurança. Ele assina a demissão com um nome falso e, quando lhe perguntam se quer outro emprego, simplesmente responde:
— Não, já tenho um trabalho para fazer.
Quatro dias depois, graças à sua antiga ocupação, adquire sem muita dificuldade um revólver calibre 38 numa casa de armas localizada a um quarteirão da chefatura de polícia da capital havaiana, e segue para Nova Iorque.
Na frente do Dakota, enquanto espera pelo seu ídolo no pátio reservado aos fãs dos moradores do prédio, as horas se arrastam, naquela segunda-feira.
Finalmente, quando ele passa, a caminho do estúdio Hit Factory, onde estava sendo aguardado pelo produtor Jack Douglas para mixar a música Walking on Thin Ice, com guitarras e teclados bem ao estilo disco music, estende-lhe o disco Double Fantasy e pede um autógrafo.
Agradece, mas não vai embora: são quase 17h — a noite será longa.
Para se distrair, leva debaixo do braço um livro empolgante — O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger, no qual se identificou cegamente com o personagem principal, um adolescente revoltado que odeia falsidade. Se preciso, farão companhia um ao outro, madrugada adentro.
Mas eis que a limusine que o levara volta em pouco tempo. Para na frente do Dakota; a porta se abre.
Acompanhado da mulher, o homem de óculos e blusão de couro não demorou muito: passava das 22 horas quando se despediu da equipe do estúdio, prometendo voltar na manhã seguinte. Dispensou até mesmo o jantar marcado no restaurante Stage Deli e decidiu voltar para casa: queria ver o filho, Sean, antes que ele dormisse.
O homem desce do carro; o jovem o interpela pelo nome:
— Mister...?
A miopia os aproxima na escuridão.
Então, o desconhecido saca a arma do casaco, agacha-se na posição de tiro e dispara, quase a queima-roupa.
Um, dois, três... cinco tiros na noite de 8 de dezembro de 1980, em Nova York.
Gritos desesperados, uma sirene, uma radiopatrulha rasgando a cidade a caminho do St. Luke's Roosevelt Hospital.
No pátio reservado aos fãs dos moradores do Dakota, Mark David Chapman, cidadão norte-americano, aguarda calmamente a polícia: quando Steve Spiro, primeiro policial a chegar ao local do crime, apareceu, Mark deixou cair o revólver, não ofereceu resistência, entregou-se.
— Você sabe o que fez? — pergunta-lhe um dos porteiros do Dakota.
— Eu matei John Lennon.

COHEN, Marleine. John Lennon. São Paulo: Globo, 2007. p. 9-11. (Col. Personagens que Marcaram
Época). (Adaptado).

Texto 2

Pobre menino Winnie

A espessa fumaça levantada pelo bombardeio aéreo sobre Liverpool, Inglaterra, mal tinha se dissipado naquele 9 de outubro de 1940, quando, às 18h30, o choro de um recém-nascido ecoou nos corredores do Oxford Street Maternity Hospital.
Depois de um complicado trabalho de parto, Julia Stanley — uma típica jovem dona de casa de classe média baixa — dava à luz seu primeiro filho, o menino John Winston, para quem o pai Alfred, marinheiro e músico amador, só acenaria para desejar as boas-vindas do outro lado do oceano.
Apesar de ausente — naquele e em tantos outros anos —, Fred cuidou de garantir a linhagem e o provento do guri, assim que ele nasceu: algo portentoso, seu nome de batismo, John Winston Lennon, era uma homenagem ao bisavô Jack (John) Lennon, que havia integrado o grupo musical Andrews Robertson's Kentucky Ministrels, e ao prestigiado primeiro-ministro Winston Churchill, que, naquele tempo, zelava pela soberania da Grã-Bretanha e conduzia os destinos da nação, num mundo ameaçado pelo nazismo.
Em breve, porém, a distância entre Julia e Fred selaria — a pedido dela — a definitiva separação entre eles e, a partir de 1942, o dinheiro para o sustento do pequeno John minguou. [...]
Imersa em dificuldades financeiras, Julia — que, naquele momento, já trabalhava, bebia e fumava — se viu à deriva diante da tarefa de educar o menino. Preferiu casar-se novamente e entregar a tutela de John à irmã Mary Elizabeth — a tia Mimi — e seu marido George Smith, um austero casal de meia-idade que não tinha filhos.
Coube assim ao tio George ensinar o pequeno John Winston a ler e escrever e levá-lo vez ou outra ao cinema. [...]
Assim, antes de completar 6 anos, John Lennon já tinha provado o dissabor de ser abandonado pelos pais e vivia com os tios no bairro de Woolton, na 251, Menlove avenue, local de grande concentração de médicos e advogados e distante apenas 5 quilômetros da casa da mãe.
— Eu era um autêntico menino suburbano, cheiroso e bem-cuidado, meio palmo acima da classe social de Paul, George e Ringo, que viviam em moradias subsidiadas pelo governo. Nós, não: tínhamos nossa casa e nosso jardim. Assim, eu era algo como um fruto proibido, em comparação com eles... — contaria mais tarde John, com suas próprias palavras.
Apesar disso, e desce muito cedo, Lennon se tornou "o garoto que os pais não queriam ao lado de seus filhos": tinha apenas 6 anos quando foi expulso pela primeira vez de uma creche porque aterrorizava as menininhas. [...]
Os anos 50 arrebataram este jovem transviado, acentuaram seu sarcasmo e irreverência e o lançaram definitivamente no submundo: John Lennon vestiu-se de couro e se empapuçou de gomalina, abraçou o skiffle, mistura de rock e música popular inglesa que virou mania na Grã-Bretanha, ganhou da tia Mimi um violão e enfrentou a primeira morte na família — a do tio George, em 1953, cuja ausência incentivou sua mãe Julia a se aproximar um pouco mais dele, numa relação de franca e despretensiosa camaradagem. Coube a ela, então, lhe ensinar os primeiros acordes de guitarra e encorajá-lo a seguir adiante com a música.
— Isso é bom como hobby, mas você nunca vai ganhar a vida assim. — instruía a tia Mimi, ao ver o sobrinho dedilhar o instrumento até sangrar os dedos.
Mas o rock expressava seu inconformismo, sua dor.
E lhe trazia de volta a companhia da mãe — até que o ano de 1958 a extirpou definitivamente de sua vida, depois que um policial bêbado chamado Eric Clague a atropelou na frente de casa e a matou aos 44 anos de idade, no dia 15 de julho. [...]
John Lennon tinha então 17 anos:
— Minha primeira lembrança da vida é a de um pesadelo — confessaria, amargurado, na autobiografia dos Beatles.
De fato, o sonho ainda estava em gestação.

COHEN, Marleine. John Lennon. São Paulo: Globo, 2007. p. 23-25. (Col. Personagens que Marcaram Época)

Gomalina: produto obtido pela mistura entre vaselina e goma, utilizado para a fixação dos cabelos.
Extirpar: eliminar, arrancar.

Texto 3

E, então, o sonho acabou

Na segunda metade dos anos 60, mudanças palpáveis marcaram a forma como os Beatles passaram a se apresentar — num prenúncio do que viria a acontecer.
Os rapazes dispensaram o corte de cabelo característico e os ternos iguais e cada qual tratou da própria aparência como bem entendia. John assumiu a miopia e substituiu as lentes de contato pelos óculos; Paul cobriu as faces com uma barba cerrada. A nova aparência dos Beatles permitiu não só trazer à tona a verdadeira personalidade de cada um, como também acentuar as diferenças entre eles: assim, de alguma forma, a unidade dos Beatles se rompeu.
Não bastasse, a banda decidiu abandonar os shows e se concentrar na produção em estúdio. Essa decisão, que culminou com um último espetáculo no Candlestick Park, em São Francisco, Estados Unidos, no dia 29 de agosto de 1966, foi mal recebida pelos críticos. Na ocasião, Brian Epstein também se queixou: "O que será do empresário de uma banda de rock que não se apresenta ao vivo?". [...]
Os Beatles só voltaram a se reunir em 1969, em torno do projeto Get back, um filme--documentário que pretendia registrar todo o processo de gravação de um álbum. John, Paul, George e Ringo também estavam inclinados a fazer um show ao vivo, ao final das gravações.
Durante o trabalho, porém, a tensão entre os integrantes da banda aumentou novamente e o filme só fez documentar, na prática, o seu esfacelamento. No fim do filme, os músicos decidiram improvisar um palco no telhado do estúdio e tocar algumas músicas para os pedestres que circulavam nas calçadas. Naquele dia, nem mesmo a polícia conseguiu interromper a apresentação.
O projeto Get back não agradou e foi arquivado. Pouco depois, foi lançado com outro nome: Let it be.
Os Beatles se reuniram novamente, e pela última vez, nos estúdios da Apple para gravar o álbum Abbey road — o disco mais vendido do grupo. Em março de 1970, Paul McCartney dava uma entrevista anunciando o fim dos Beatles. [...]
Sete anos depois — mais de um bilhão de discos vendidos, 13 álbuns lançados, turnês fantásticas e os maiores prêmios da indústria do entretenimento —, o sonho terminava. John, Paul, George, Ringo: uma sinfonia acabada.

COHEN, Marleine. John Lennon. São Paulo: Globo, 2007. p. 64, 75. (Col. Personagens que Marcaram Época).

1. O texto 1 trata de um acontecimento que abalou a cena cultural mundial no dia 8 de dezembro de 1980. Que acontecimento foi esse?

2. Há outra data indicada pelo autor no texto 1. Qual é seu significado?

3. A organização cronológica do texto 1 pode parecer estranha: primeiro a autora narra os acontecimentos da noite de 8 de dezembro de 1980, depois volta no tempo para resgatar fatos acontecidos em 23 de outubro do mesmo ano.

► Essa organização pode ser explicada se levarmos em consideração as personagens que protagonizam os acontecimentos associados a essas duas datas e também a finalidade do texto. Por quê?

► "Um, dois, três... cinco tiros na noite de 8 de dezembro de 1980, em nova York". O primeiro parágrafo é repetido na parte final do texto 1. Explique que função ele desempenha nesse momento da narrativa em relação à organização cronológica.

4. O texto 2 relata uma série de fatos que marcaram a infância e a adolescência de John.

► Que fatos são esses?

► Explique por que a identificação desses fatos permite compreender não só o título do texto 2 ("Pobre menino Winnie") como a observação final feita por Lennon: "Minha primeira lembrança da vida é um pesadelo".

5. Em meio a tantos acontecimentos negativos, há um que se mostrou, ao contrário, positivo e importantíssimo para o desenvolvimento de John Lennon como músico. Que acontecimento é esse?

6. Por que a autora do texto julgou importante resgatar esse acontecimento do passado de Lennon?

7. O texto 2 termina de modo significativo: "de fato, o sonho ainda estava em gestação". Que "sonho" é esse de que fala o texto?

8. O título do texto 3 já antecipa, para o leitor, qual será seu foco. Explique por quê.


Gabarito dos exercícios sobre Biografia

1. O assassinato do ex-beatle John Lennon em nova York.

2. Em 23 de outubro de 1980, o assassino de John Lennon, Mark David Chapman, pediu demissão do trabalho como segurança num condomínio no Havaí e partiu para nova York.

3. ► A primeira data é marcante por se tratar da noite em que John Lennon, personalidade importantíssima do mundo da música, foi assassinado. Como a finalidade do texto é recontar a história da vida de Lennon, o momento da sua morte passa a ser muito significativo para o conjunto do texto. A segunda data só tem importância no contexto mais geral da vida de Lennon, porque foi nela que o seu futuro assassino pediu demissão do emprego e rumou para Nova Iorque. Naquele momento, ele já planejava o crime que cometeria em dezembro.

► A repetição desse parágrafo marca, para o leitor, a volta do texto ao momento "presente" da narrativa: a noite de 8 de dezembro de 1980. Nos parágrafos anteriores, a autora promoveu uma volta ao passado (23 de outubro de 1980) para tratar dos fatos que deram início à viagem de Mark Chapman a Nova York, onde matou John Lennon. É necessário, portanto, sinalizar que a narrativa voltou a dezembro e reforçar o momento dramático em que Lennon foi baleado.

4. ► O pai, marinheiro, esteve ausente durante toda a infância de Lennon e se separou em definitivo da mãe do menino. Ao casar de novo, ela entregou a tutela de John à irmã e o marido. expulso da escola aos 6 anos, John tornou-se um jovem problemático, entrando no submundo. Aos 13 anos, o tio que o criou faleceu e, aos 17, sua mãe morreu, vítima de atropelamento.

► A autora, com o título escolhido, já chama a atenção do leitor para o caráter negativo da maior parte dos acontecimentos que marcaram os anos de formação de Lennon. Nesse sentido, pode-se entender por que ele considera a lembrança inicial que tem da sua vida "um pesadelo".

5. Com a morte do tio que o criava, sua mãe tentou uma reaproximação. Foi ela quem ensinou a John os primeiros acordes na guitarra que ele ganhou da tia e o encorajou a seguir adiante com a música.

6. Porque é nesse momento que a música deixa de ser o veículo usado por Lennon para expressar sua rebeldia e, por um curto período, ele e a mãe têm um relacionamento mais próximo do que se considera normal. A reconstituição desse episódio permite aos leitores a visão de um Lennon mais humanizado que antes.

7. O sonho de alcançar o sucesso por meio da música. no futuro, quando se juntar a outros três amigos de Liverpool, Lennon fará parte da banda de rock mais famosa do século XX: os Beatles. No momento em que ganhou o violão de sua tia, a ideia de ganhar a vida como músico não passava de um sonho.

8. O sonho vivido por quatro rapazes, de fama e fortuna vindos de sua parceria na música, dissipou-se com a descaracterização do grupo: passaram a usar roupas e cabelos que os individualizassem, o que acentuou suas diferenças. Deixaram de se apresentar ao vivo e, antes da separação definitiva, após a gravação do último disco, ficaram três anos sem se reunir.

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