Naturalismo / O Naturalismo no Brasil teve início no final do século XIX. Entre suas principais características estão o objetivismo e a impessoalidade.

Movimento literário que teve início na Europa com a publicação do livro Germinal, de Émile Zola, o Naturalismo chegou ao Brasil no final do século XIX. Foi nessa época que, influenciados por escritores europeus, nossos escritores passaram a enxergar na literatura um instrumento de denúncia social, e não apenas um entretenimento para a classe média e para a elite brasileira.

O principal representante do Naturalismo no Brasil foi o maranhense Aluísio Azevedo. Em sua obra máxima, O Cortiço, Aluísio condensou todos os ideais naturalistas ao mostrar como a influência do meio e a força dos instintos determinam o comportamento das personagens. Em outras obras do autor, como O mulato e Casa de pensão, é possível observar como o fatalismo das forças sociais e naturais atua sobre o homem, em uma tentativa de validar, por meio da literatura, as teorias científicas que dominavam o pensamento filosófico em todo o mundo.

Aluísio Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão e é considerado o principal representante do Naturalismo no Brasil

Influenciada pelas leis científicas, a literatura naturalista construiu sua ficção ao tratar o homem como um objeto a ser cientificamente estudado, abandonando assim qualquer resquício da literatura romântica. Não há espaço para metáforas ou subjetividade: a realidade é retratada tal qual é, e a linguagem aproxima-se da simplicidade do coloquialismo para que o leitor tente captar com exatidão as descrições feitas pelo narrador. O romancista assume uma posição de não envolvimento, de impessoalidade, introduzindo na literatura assuntos ligados ao homem, inclusive aqueles tidos como repulsivos, jamais abordados na história da literatura brasileira.

O Naturalismo costuma ser associado ao Realismo, outra tendência literária cuja preocupação foi fazer da literatura um instrumento para a análise social, e não mera diversão para as classes privilegiadas. Por tentar comprovar por meio da ficção a validade de teses científicas deterministas, o Naturalismo não é considerado, sob o ponto de vista de alguns estudiosos, como um objeto verdadeiramente artístico. Os escritores que aderiram ao movimento tinham como principal intenção dissecar o comportamento humano e social, em um trabalho que se aproximava das frias e impessoais experiências de laboratório, distante da concepção artística de literatura até então vigente.

Entre os principais elementos que diferem a linguagem naturalista da linguagem realista, estão:

► Determinismo: Teoria filosófica que afirma que as escolhas e ações humanas acontecem por relações de causalidade, e não em virtude do livre-arbítrio. Os seres não possuem vontades, são apenas fantoches nas mãos do destino:

" — É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É escrava minha!

A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.

Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.

E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue (...)”.

O cortiço – Aluísio Azevedo

► Preferência por temas de patologia social: De acordo com a concepção naturalista, o homem é apenas um animal cujo destino é determinado pelo meio ambiente e pela hereditariedade. Outros aspectos, como a educação e o nível cultural, também são tidos como responsáveis pela formação do caráter do homem:

“(...) Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente seu ninho exposto (...)”.

O cortiço – Aluísio Azevedo

► Objetivismo científico e impessoalidade: Entre as características da linguagem naturalista estão a impessoalidade e a objetividade com que as situações são descritas. Apenas são considerados os fatos, sendo eles descritos minuciosamente por meio de uma linguagem simples e direta, tal qual um documento científico:

A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.

O cortiço – Aluísio Azevedo

Além de Aluísio Azevedo, outros escritores brasileiros também aderiram ao Naturalismo, entre eles nomes como Adolfo Caminha (Bom Crioulo), Inglês de Souza (Contos Amazônicos e O Missionário), Raul Pompeia (O Ateneu) e Adherbal de Carvalho (A Noiva).

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