Conversa com David Gonçalves

1 - Nome completo, idade, formação.


David Gonçalves, 62 anos, mestre em Literatura Brasileira, doutorado incompleto [por desilusão com o ensino das universidades, cheguei a escrever a tese...]. Mas isso não me fez abandonar o caminho: decidi ir por conta própria, pesquisando, estudando, escrevendo; na maior parte, sem apoio. Sou, enfim, da geração que publicou textos em mimeógrafos e distribuía nas escolas e ruas. Hoje, ninguém conhece um mimeógrafo... Está mais fácil publicar.

2 - Livros publicados.

Mais de vinte, entre eles: Geração viva, Acima do chão, O sol dos trópicos, Águas de outono, Sangue verde.... Na quantidade, as edições somam mais de 250.000 volumes. Alguns com mais edições, como o "Terra Braba", que está na décima sétima edição, e outros que ainda estão na primeira. Para escritor brasileiro, não estou tão mal.

3 - Fale sobre o Bola de Fogo: quantos contos, o que abordam, quantas páginas, Editora, custo da obra e onde pode ser encontrada.

"Bola de fogo" reúne trinta contos inéditos, escritos nos últimos três anos. O tema do conto "Bola de fogo" é a essência da vida. A personagem afirma: "Eu não quero ser salvo, quero ser gasto". O que é a vida: simplesmente energia. Quanto mais se gasta, mais se tem. As pessoas que nada fazem morrem rapidamente, porque não se renovam... O homem, por incrível que pareça, é o tipo de "máquina" que se degenera por falta de uso. Quando se tem energia, montanha alguma parece suficientemente alta: os limites entre o trabalho e a diversão simplesmente se apagam, e tudo se transforma em paixão. As pupilas crescem, os olhos brilham! E todo ser possui grande reserva de energia, muito acima da quantidade que jamais poderia esperar... Escrever, para mim, é paixão.

Mas, nos outros contos, a temática varia entre o estranho e o fantástico, e o realismo mágico. Inclusive, o último conto - "Um estranho prazer" - é narrativa policial, o mais longo, quase uma novela. Uma experiência nova para mim, já que sempre abordei temas relacionados ao homem, à terra, ao êxodo rural, a violência, os desencontros...

7 - Como começou a escrever, o que o motiva e o seduz para escrever? O que a literatura significa na tua vida?

Escrevi meu primeiro conto com 14 anos. Depois escrevi um romance longo, dos 16 aos 18 anos ["Bagaços de gente"] que nunca foi publicado [nele eu imitava os grande autores brasileiros]. Dos 18 aos 20, escrevi o romance "As flores que o chapadão não deu", um dos primeiros livros sobre o racismo no Brasil, que a polícia federal recolheu [1972 - ditadura militar]. Hoje, o romance está na oitava edição, depois de ter ficado 16 anos engavetado.

A literatura é minha bola de fogo, a grande motivação pela vida. Sem ela, não saberia como viver.

8 - "Conselhos" aos novos escritores e aos que ainda guardam textos nas gavetas...

Conselho é algo que não se dá... Mas segue o que eu penso: primeiro, sentir a literatura como uma espécie de chamado, um dom. Depois, procurar conhecimento, ler muito, desde os autores pequenos aos grandes da literatura mundial; e não ter medo do fracasso. Ir publicando, ir corrigindo, ir melhorando, ir motivado pela longa estrada, não ficar pensando no sucesso fácil, pois a boa literatura nunca foi e jamais será literatura de massa.

9 - Fale um pouco sobre a experiência na presidência da Associação Confraria das Letras.

Foi uma experiência ótima - reunir escritores numa associação, incentivar a criação literária, encorajar as publicações, fomentar a vontade de escrever. Os escritores são muito solitários. Mas, quando juntos, se tornam grandes! Juntos, somos mais.

10 - Como está a literatura catarinense e nacional, especialmente em tempos de "crise"?

A literatura catarinense vai bem, a nacional também. O problema no Brasil é o hábito de leitura. Simplesmente, a maioria das pessoas não gosta de ler. Por incrível que pareça, há professores que, há anos, não leem nenhuma obra relevante. E os ricos e políticos se vangloriam dizendo: "Não tenho muito estudo..." Portanto, o problema reside no hábito de leitura...

11 - Considerações finais.

Começo o "Bola de fogo" com uma citação de Santo Thomás de Aquino: "Temo o homem de um livro só". O que dizer, então, do homem que nunca leu um livro? Este homem vive em absoluta escuridão, como se fosse a Idade Média, provavelmente manipulado por espertalhões. De nada adianta o Brasil ser a sétima economia do mundo se, na questão educação, estamos numa posição vexatória... [na posição 86]. Mas, com boa leitura, poderemos mudar tudo isso.

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