SEXTA À NOITE - Nelson Bortoletto

Uma sexta-feira como hoje é um dia ideal para se ir a um desses piano-bar da cidade, ocupar solitariamente uma mesa num canto bem discreto, pedir uma garrafa de vinho branco bem refrescado, num balde com um pouco de gelo e ficar ali, bebericando e observando.

Mas tem que ser um bar onde ninguém nos conheça. Quem dará atenção a um homem sessentão, sentado à mesa do fundo de um bar?

Nesses ambientes, nas noites da cidade, os rapazes e as moças costumam ir com um único intuito: encontrar companhia e, para tanto, vão todos empavonados, com as roupas da moda, se possível, num visual bem original e que às vezes beira o exótico. É bonito, interessante de se admirar.

Daí, os rapazes e as moças, cheios de gestos charmosos, caras e bocas, expõem-se num ritual de flertes e posturas com frases pretensamente insinuantes, exatamente como acontece na selva entre os passarinhos.

Nada de novo no front de batalha...

Só que, desculpem-me a franqueza um tanto quanto ácida, principalmente nos homens, anda faltando uma certa criatividade e, na simples exposição de bíceps avantajados e cabelos bem cortados, vão se apoiando na ideia de que só isso basta.

Não, não basta.

Com o passar das horas, a bebida subindo e o bom senso descendo, vão perdendo o encanto e deixando a luz iluminar os seus vazios.

Eis que, de repente, uma certa moça olha para outra moça, acham-se mutuamente interessantes e, compartilhando as mesmas impressões, encantam-se uma com a outra e saem, juntas e com uma amizade florescente a descoberto.

Os rapazes? Ah, esses ficam lá, esbanjando mediocridade e terminam a noite discutindo futebol.

As moças estavam com a razão, afinal.

Eu me mato de rir, pago meu vinho e vou escrever alguma coisa, que meu tempo já se esgotou.

-Nelson Bortoletto-

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